segunda-feira, 29 de maio de 2017

PATRONO JOSINO NEIVA



Josino da Silva Neiva é o patrono da Cadeira Nº 4 da Academia de Letras do Noroeste de Minas. Sua biografia, para nós acadêmicos, reveste-se de importância especial, porque foi o genitor de nossa querida acadêmica Coraci da Silva Neiva Batista, que dirigiu a instituição no período 18 de março de 1997 a 27 de março de 2017.


Dados Biográficos do Professor Josino Neiva
Coraci da Sirva Neiva Batista

Josino da Silva Neiva nasceu em Paracatu .MG a 15 de fevereiro de 1875. Foram seus pais Antônio da Silva Neiva e Maria Araújo Silva. Casou-se em primeiras núpcias com Mariana da Silva Neiva com quem teve o filho Benedito e, em segunda núpcias com Elvira Rodrigues Neiva com quem teve 6 filhos: Darcy, Dolores, Maria Eny, Durval, Durval e Coraci: Faleceu em Paracatu em 04 de agosto de 1962.

Realizou seus estudos primários na Escola Isolada do Professor Caldeira Brant e o Curso de Normalista na Escola Normal de Paracatu, onde se diplomou em 19/12/1896, tendo como único colega de formatura o Dr. Leovegildo de Paula Souza, advogado em Goiás.

Foi professor primário e diretor nos grupos escolares de Paracatu, de Sacramento e de Miraí. Em 1934 aposentou-se em Miraí, após 36 anos de exercício no Magistério. Como jornalista, colaborou com os seguintes jornais da época: O Paracatu, O Lar Católico, Gazetinha Popular, O Operário, Gazeta de Sacramento, Correio Católico de Uberaba, O Município, A Folha do Povo, O Miraí.

O Diretor Josino Neiva ao lado das professoras do Grupo Escolar de Miraí - MG.


Como membro do Grêmio Dr. Pedro Salazar foi teatrólogo.

Entretanto, seu grande mérito foi o de ser autodidata. Modesto, mas com toda autenticidade, sem títulos de doutor, foi grande homem. Colocava sua inteligência a serviço da educação, do povo humilde, com nobreza, lealdade e idealismo. O amor a Deus e à Pátria estavam acima de qualquer consideração. Foi um grande educador paracatuense, responsável pela formação cultural dos primeiros grandes homens que dignificaram o nome de Paracatu.

Como legado seu existe uma coleção de discursos escritos (disponíveis nesta postagem) para todas as datas cívicas, dirigidos às crianças e jovens, sobretudo, exortando-os ao amor à Pátria. São páginas literárias de imenso valor cultural - elas comprovam o seu dom da oratória e um profundo conhecimento da História do Brasil, sua Geografia e da Língua Portuguesa. Percebe-se em todas elas o orgulho de ser brasileiro. O professor Josino Neiva, fez do magistério um sacerdócio - no altar colocou também sua Pátria - e neste sacerdócio ele direcionou os caminhos de sua vida.



O legado do jornalista Josino Neiva

Na construção do presente, preservar o passado é a melhor maneira de reconstruir uma Paracatu digna de seus habitantes e poder projetá-la no futuro. Mas, sem conhecer de fato sua história. os valores do seu passado - as dificuldades vividas e enfrentadas por aqueles que sempre desejaram vencê-las - como preservá-lo? Infelizmente a muitos não foi ensinado, nem sequer dado, o exemplo de que não apenas documentos, mas escritos velhos, não se queimam. Lamentavelmente, isto acontece (e o pior) com pessoas cultas que dizem apreciar apenas o moderno.

É, pois, dever de todo cidadão que possui aquilo que denomino de "tesouro" (documentos que comprovam fatos passados, fotos, cartas, jornais) doá-los ao Arquivo Público e divulgá-los, pois eles não Ihe pertencem, mas ao povo ao qual se refere. Por isso, por possuir um pequeno legado deste, inicio, hoje. levando aos caros leitores esta crónica escrita pelo Professor e Jornalista Josino Neiva (1875-1962) aos oitenta e cinco anos de idade, para o acervo da Escola Estadual Afonso Arinos.

Em outros números deste periódico, mostraremos a beleza dos seus escritos, datados de um mil. novecentos e um, e de outros paracatuenses ilustres que alicerçaram a cultura de Paracatu.

A você, Professor e Jornalista Josino Neiva, o carinho - seu ideal de ver sua terra natal transpondo fronteiras, através de seu crescimento e do de seus filhos, está se realizando - e a esta terra querida - Paracatu -.que você me ensinou a amar e até adotá-la como minha, no seu centésimo nonagésimo sétimo aniversário, a homenagem.




O despertar de Paracatu
Josino Neiva

Paracatu, a legendária cidade do extremo noroeste mineiro, banhada pelo pitoresco Córrego Rico que, em sua passagem triunfal junto à cidade, que tanto encanto e graça Ihe dá, tal a serenidade com que deslizam, em sinuosidade, as suas águas de uma admirável pureza, sobre largo e extenso leito coberto de cascalhos, - vlu passar a nove de março de um mil, novecentos e sessenta, cento e vinte e dois anos de sua elevação de vila à cidade.
Nasceu em dia feliz a antiga Vila de Paracatu do Príncipe! Daí, talvez, o fato auspicioso de haver a população paracatuense se libertado galhardamente do isolamento em que viveu durante cerca de dois séculos, neste vasto sertão, longe dos centros civilizados do país por falta de meios fáceis e rápidos de comunicação e transporte.
Dotada de um clima salutar, em que a leveza do ar tem algo de delicioso, esta cidade é uma terra privilegiada. Tendo excelentes elementos de progresso, a sua vida moral e material se desliza suavemente reinando no seio da sociedade paracatuense a paz e a concórdia, que são o apanágio das cidades mineiras. Possuindo conceituados educandários de ensino primário e secundário, obras d'arte primorosas, que ornam a Capela Mor e os seis altares da Igreja Matriz local, indústrias diversas e casas comerciais acreditadas e bem organizadas, - esta cidade faz realmente jus ao dignificante qualitativo de Atenas de Minas, que Ihe foi dado, há anos pelo notável engenheiro carioca, Dr. Alípio Gama, quando a visitou, em companhia do seu não menos ilustre colega, Dr. Seno Braga. membros que eram da antiga Comissão de Demarcação do Planalto Central de Goiás, ao regressarem para o Rio de Janeiro.
Posteriormente, o Exmº. e Revmº. Sr. Bispo Diocesano de Montes Claros, Dom Jogo Pimenta, quando de sua estada aqui, em fins de agosto de um mil, novecentos e dezesseis, em visita pastoral a esta Paróquia, manifestando, ao autor desta descolorida crônIca, o seu encantamento pelo tradicional culto às letras, tributado pelos paracatuenses, qualificou esta cidade de "Oásis de Civilização, perdido neste imenso deserto das letrasl".
Bem razão tem, pois, Paracatu de se honrar e se ufanar de ter sido o berço de avultado número de filhos ilustres, que se notabilizaram pela inteligência e pela cultura, não só nesta cidade como em diversos centros civilizados do país.
Agora. pelo portentoso influxo da ligação desta comuna, em curta distância, a Brasília, - a nova e futurosa Capital Federal, - pela rodovia que também liga esta cidade a Belo Horizonte e Rio de Janeiro, um novo sopro de vida perpassa, animador e fecundo, por esta zona, despertando Paracatu de uma apatia injustificável para o trabalho persistente e proveitoso, qual o de se utilizar das riquezas naturais com que Deus dotou tão encantado recanto do território mineiro.
Como revelação de tão promissor despertar, aí estão o incessante fonfonar de dezenas de carros motorizados, de vários tipos, a rodarem, diariamente, pelas ruas desta cidade, e, num constante vaivém, pela rodovia que vai a Brasília, - e a febre de inúmeras construções que faz surgir por todos os pontos da cidade, cada dia mais animada e vibrante, magníficos prédios de moderna arquitetura ao lado de vivendas modestas e confortáveis.
Sê feliz. cidade bendita!



Alírio e Josino
Coraci da Sirva Neiva Batista

Paracatu, 1875 - nasce Alívio Carneiro; também Josino Neiva; amigos, compadres, jornalistas, cultos; confundiam-se no desmedido amor à terra natal. Quando Alírio mudou-se de Paracatu, correspondiam semanalmente.
As cartas? Eram escritas num português límpido, correto, literário, sempre com um comentário sobre política. Desta revelavam grande conhecimento, não somente sobre o que se passava no país, mas no mundo; tudo acompanhavam através dos jornais e pelo rádio. Tive a felicidade de conhecer e conviver com ambos. Quando estudante em Belo Horizonte visitava Alírio todos os domingos (isto fazia Josino feliz e a mim também), saía enriquecida pela sabedoria que a sua prosa transmitia.
E ele, como era? A lembrança que guardo é a de um homem elegante no falar, ao escrever, no trajar-se. na postura. no andar ao comunicar-se. Caráter firme. personalidade forte. deixando transparecer em sua fala o político sagaz que foi e que ajudou a construir a hist(ária desta terra. Acreditava veementemente nos ideais que pregava; não o amedrontava ir a extremos na conquista do que buscava atingir. Ninguém conseguia persuada-lo do contrário. Sua crítica mordaz se manifestava em sonetos, usando sempre pseudônimos: Rodrigues Lobo, Pan Pulha. Como jornalista, a sátira era sua principal característica. Republicano, admirava Floriano Peixoto, Rui Barbosa. Lamentava a barbaridade da guerra mundial e esperava a vitória da liberdade e do direito.
Mudou-se de Paracatu, mas levou-a em seu coração.
1938 - o país inteiro sofre as consequências do famigerado Estado Novo - era a ditadura de Vargas propiciando a estagnação do progresso. Alírio, em 28/09/1940, assim escreve a Josino: “A despeito da propaganda do Estado Novo, vemos, no Brasil, a mistificação administrativa, emitindo papel moeda e criando impostos, para manter o privilégio das classes armadas. Bárbaros, incultos, viciados, venais a maior parte dos soldados e oficiais."
Nesta carta, enviou-lhe dois sonetos escritos dois anos antes, quando aqui veio em visita. Sinto no primeiro uma crítica da realidade e no segundo a esperança dos que amam. E o leitor, que sentirá ao lê-los? (Reprodução abaixo):

Visita à Terra Natal

Depois de longos anos de ausência.
Voltei à minha terra. ansioso.
Por sabê-la pobre e em decadência,
Num abandono injusto e lastimoso

Senti dos campos a beleza e essência.
Em um contraste rude e doloroso
Com a cidade imunda. e na indigência.
Um povo outrora próspero e ditoso.

Vendeu-se das igrejas o tesouro,
E a pobreza por sobre aluviões de ouro
faiscava nas praias-.com espanto,

Deixei a minha terra em agonia.
Com a extrema unção da Prelazia,
Adorado o prelado como um santo
PARACATU

TU TORNARÁS A SER QUEM ERA DANTES!
Rodrigues Lobo

Caro Paracatu, quão diferente
Te vejo e vi. Porque tudo que existe
Do teu passado me parece o triste
Escombro da cidade cruelmente

Abandonada e pobre e decadente,
Que à luta voltar já não resistem
Teu trabalho de outrora em que consiste?
E o teu povo tão rico está descrente?

Quem foi rainha, sempre é majestade
Na tua antiga corte, a mocidade
Cursara academias mais distantes.

Dessa cultura, pois entre ruínas,
Como o ouro brotando em novas minas,
TU TORNARÁS A SER QUEM ERA DANTES!


1954 - Temia que, com Juscelino no poder, a República viesse à falência, pois escreveu: "O regime corrompido não resistirá a um governo demagógico e voador como é do nosso Estado, com a famosa administração revolucionária, binominal. Energia, transporte e alimentação este trinômio será, no futuro quatriênio, se eleito o Binômio, a falência da República!'. Em 8 de dezembro deste mesmo ano, ele dizia: "Desejo terminar os meus dias aí, mas na fazenda do São Pedro, onde farei um campo de aviação para que meus filhos possam me visitar ou eu a eles. Estou tapeando minha moléstia, para ter, ao menos o prazer de morrer no sertão, livre dos serviços de luto dessa capital".
1961 - Falece em Belo Horizonte e seu corpo é sepultado em Paracatu, realizando assim parte de seu desejo.
1996 - Paracatu completa cento e noventa e oito anos. E, numa homenagem à terra natal do escritor de "O Centenário de Paracatu", o jornalista Alírio Carneiro, desvendamos parte de sua vida, de sua privacidade. Um imortal precisa ser conhecido e valorizado pelos seus concidadãos. A memória de um povo não tem que ser a ele devolvida? 




CORRESPONDÊNCIAS E DISCURSOS DE JOSINO NEIVA

A disponibilização das correspondências trocadas, principalmente, com seus amigos, até o ano de 1964 é por iniciativa da sua filha Coraci, que diligentemente as guardou, sempre acalentando o sonho de mostrar à posteridade uma pessoa que ela tanto admirava e que exerceu influência em todos os lugares onde viveu, por sua inteligência, carisma, humanismo e espírito público.

A disponibilização desses documentos, por se tratar de centenas de correspondências, ocorrerá gradativamente. Por enquanto, e também para testar a aplicabilidade de divulgação através deste Blog, estão colocadas à público as correspondências  datadas de 1909 a 1936.


Para acessar os documentos, clique em:


Josino Neiva 1909-1936

Josino Neiva 1936 - 1950

Josino Neiva 1950 - 1954

Josino Neiva 1954 - 1960

Josino Neiva 1960 - 1964

Prelazia de Paracatu

Discursos 1


2 comentários:

  1. Que beleza! Um arquivo importante e disponível on line. Obrigada D. Coraci, obrigada Márcio.

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  2. Sim, Helen, poderemos ter aqui a produção e os documentos relevantes dos patronos, acadêmicos e colaboradores da ALNM. Quem quiser colaborar basta enviar o material para o e-mail da Academia ou para o deste site: academialetras.noroestemg@gmail.com.

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