Josino da Silva Neiva é o patrono da Cadeira Nº 4 da Academia de Letras do Noroeste de Minas. Sua biografia, para nós acadêmicos, reveste-se de importância especial, porque foi o genitor de nossa querida acadêmica Coraci da Silva Neiva Batista, que dirigiu a instituição no período 18 de março de 1997 a 27 de março de 2017.
Dados Biográficos do Professor Josino
Neiva
Coraci da Sirva Neiva Batista
Josino da Silva Neiva nasceu em Paracatu
.MG a 15 de fevereiro de 1875. Foram seus pais Antônio da Silva Neiva e Maria Araújo
Silva. Casou-se em primeiras núpcias com Mariana da Silva Neiva com quem teve o
filho Benedito e, em segunda núpcias com Elvira Rodrigues Neiva com quem teve 6
filhos: Darcy, Dolores, Maria Eny, Durval, Durval e Coraci: Faleceu em Paracatu
em 04 de agosto de 1962.
Realizou seus estudos primários na
Escola Isolada do Professor Caldeira Brant e o Curso de Normalista na Escola Normal
de Paracatu, onde se diplomou em 19/12/1896, tendo como único colega de formatura
o Dr. Leovegildo de Paula Souza, advogado em Goiás.
Foi professor primário e diretor nos
grupos escolares de Paracatu, de Sacramento e de Miraí. Em 1934 aposentou-se em
Miraí, após 36 anos de exercício no Magistério. Como jornalista, colaborou com os
seguintes jornais da época: O Paracatu, O Lar Católico, Gazetinha Popular, O Operário,
Gazeta de Sacramento, Correio Católico de Uberaba, O Município, A Folha do Povo,
O Miraí.
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O Diretor Josino Neiva ao lado das professoras do Grupo Escolar de Miraí - MG. |
Como membro do Grêmio Dr. Pedro Salazar
foi teatrólogo.
Entretanto, seu grande mérito foi
o de ser autodidata. Modesto, mas com toda autenticidade, sem títulos de doutor,
foi grande homem. Colocava sua inteligência a serviço da educação, do povo humilde,
com nobreza, lealdade e idealismo. O amor a Deus e à Pátria estavam acima de qualquer
consideração. Foi um grande educador paracatuense, responsável pela formação cultural
dos primeiros grandes homens que dignificaram o nome de Paracatu.
Como legado seu existe uma coleção
de discursos escritos (disponíveis nesta postagem) para todas as datas cívicas,
dirigidos às crianças e jovens, sobretudo, exortando-os ao amor à Pátria. São páginas
literárias de imenso valor cultural - elas comprovam o seu dom da oratória e um
profundo conhecimento da História do Brasil, sua Geografia e da Língua Portuguesa.
Percebe-se em todas elas o orgulho de ser brasileiro. O professor Josino Neiva,
fez do magistério um sacerdócio - no altar colocou também sua Pátria - e neste sacerdócio
ele direcionou os caminhos de sua vida.
O legado do jornalista Josino Neiva
Na construção do presente, preservar
o passado é a melhor maneira de reconstruir uma Paracatu digna de seus habitantes
e poder projetá-la no futuro. Mas, sem conhecer de fato sua história. os valores
do seu passado - as dificuldades vividas e enfrentadas por aqueles que sempre desejaram
vencê-las - como preservá-lo? Infelizmente a muitos não foi ensinado, nem sequer
dado, o exemplo de que não apenas documentos, mas escritos velhos, não se queimam.
Lamentavelmente, isto acontece (e o pior) com pessoas cultas que dizem apreciar
apenas o moderno.
É, pois, dever de todo cidadão que
possui aquilo que denomino de "tesouro" (documentos que comprovam fatos
passados, fotos, cartas, jornais) doá-los ao Arquivo Público e divulgá-los, pois
eles não Ihe pertencem, mas ao povo ao qual se refere. Por isso, por possuir um
pequeno legado deste, inicio, hoje. levando aos caros leitores esta crónica escrita
pelo Professor e Jornalista Josino Neiva (1875-1962) aos oitenta e cinco anos de
idade, para o acervo da Escola Estadual Afonso Arinos.
Em outros números deste periódico,
mostraremos a beleza dos seus escritos, datados de um mil. novecentos e um, e de
outros paracatuenses ilustres que alicerçaram a cultura de Paracatu.
A você, Professor e Jornalista Josino
Neiva, o carinho - seu ideal de ver sua terra natal transpondo fronteiras, através
de seu crescimento e do de seus filhos, está se realizando - e a esta terra querida
- Paracatu -.que você me ensinou a amar e até adotá-la como minha, no seu centésimo
nonagésimo sétimo aniversário, a homenagem.
O despertar de Paracatu
Josino
Neiva
Paracatu, a legendária cidade do extremo
noroeste mineiro, banhada pelo pitoresco Córrego Rico que, em sua passagem triunfal
junto à cidade, que tanto encanto e graça Ihe dá, tal a serenidade com que deslizam,
em sinuosidade, as suas águas de uma admirável pureza, sobre largo e extenso leito
coberto de cascalhos, - vlu passar a nove de março de um mil, novecentos e sessenta,
cento e vinte e dois anos de sua elevação de vila à cidade.
Nasceu em dia feliz a antiga Vila
de Paracatu do Príncipe! Daí, talvez, o fato auspicioso de haver a população paracatuense
se libertado galhardamente do isolamento em que viveu durante cerca de dois séculos,
neste vasto sertão, longe dos centros civilizados do país por falta de meios fáceis
e rápidos de comunicação e transporte.
Dotada de um clima salutar, em que
a leveza do ar tem algo de delicioso, esta cidade é uma terra privilegiada. Tendo
excelentes elementos de progresso, a sua vida moral e material se desliza suavemente
reinando no seio da sociedade paracatuense a paz e a concórdia, que são o apanágio
das cidades mineiras. Possuindo conceituados educandários de ensino primário e secundário,
obras d'arte primorosas, que ornam a Capela Mor e os seis altares da Igreja Matriz
local, indústrias diversas e casas comerciais acreditadas e bem organizadas, - esta
cidade faz realmente jus ao dignificante qualitativo de Atenas de Minas, que Ihe
foi dado, há anos pelo notável engenheiro carioca, Dr. Alípio Gama, quando a visitou,
em companhia do seu não menos ilustre colega, Dr. Seno Braga. membros que eram da
antiga Comissão de Demarcação do Planalto Central de Goiás, ao regressarem para
o Rio de Janeiro.
Posteriormente, o Exmº. e Revmº. Sr.
Bispo Diocesano de Montes Claros, Dom Jogo Pimenta, quando de sua estada aqui, em
fins de agosto de um mil, novecentos e dezesseis, em visita pastoral a esta Paróquia,
manifestando, ao autor desta descolorida crônIca, o seu encantamento pelo tradicional
culto às letras, tributado pelos paracatuenses, qualificou esta cidade de "Oásis
de Civilização, perdido neste imenso deserto das letrasl".
Bem razão tem, pois, Paracatu de se
honrar e se ufanar de ter sido o berço de avultado número de filhos ilustres, que
se notabilizaram pela inteligência e pela cultura, não só nesta cidade como em diversos
centros civilizados do país.
Agora. pelo portentoso influxo da
ligação desta comuna, em curta distância, a Brasília, - a nova e futurosa Capital
Federal, - pela rodovia que também liga esta cidade a Belo Horizonte e Rio de Janeiro,
um novo sopro de vida perpassa, animador e fecundo, por esta zona, despertando Paracatu
de uma apatia injustificável para o trabalho persistente e proveitoso, qual o de
se utilizar das riquezas naturais com que Deus dotou tão encantado recanto do território
mineiro.
Como revelação de tão promissor despertar,
aí estão o incessante fonfonar de dezenas de carros motorizados, de vários tipos,
a rodarem, diariamente, pelas ruas desta cidade, e, num constante vaivém, pela rodovia
que vai a Brasília, - e a febre de inúmeras construções que faz surgir por todos
os pontos da cidade, cada dia mais animada e vibrante, magníficos prédios de moderna
arquitetura ao lado de vivendas modestas e confortáveis.
Sê feliz. cidade bendita!
Alírio e Josino
Coraci da Sirva Neiva Batista
Paracatu,
1875 - nasce Alívio Carneiro; também Josino Neiva; amigos, compadres, jornalistas,
cultos; confundiam-se no desmedido amor à terra natal. Quando Alírio mudou-se de
Paracatu, correspondiam semanalmente.
As
cartas? Eram escritas num português límpido, correto, literário, sempre com um comentário
sobre política. Desta revelavam grande conhecimento, não somente sobre o que se
passava no país, mas no mundo; tudo acompanhavam através dos jornais e pelo rádio.
Tive a felicidade de conhecer e conviver com ambos. Quando estudante em Belo Horizonte
visitava Alírio todos os domingos (isto fazia Josino feliz e a mim também), saía
enriquecida pela sabedoria que a sua prosa transmitia.
E
ele, como era? A lembrança que guardo é a de um homem elegante no falar, ao escrever,
no trajar-se. na postura. no andar ao comunicar-se. Caráter firme. personalidade
forte. deixando transparecer em sua fala o político sagaz que foi e que ajudou a
construir a hist(ária desta terra. Acreditava veementemente nos ideais
que pregava; não o amedrontava ir a extremos na conquista do que buscava atingir.
Ninguém conseguia persuada-lo do contrário. Sua crítica mordaz se manifestava em
sonetos, usando sempre pseudônimos: Rodrigues Lobo, Pan Pulha. Como jornalista,
a sátira era sua principal característica. Republicano, admirava Floriano Peixoto,
Rui Barbosa. Lamentava a barbaridade da guerra mundial e esperava a vitória da liberdade
e do direito.
Mudou-se de Paracatu, mas levou-a em seu coração.
1938 - o país inteiro sofre as consequências do famigerado
Estado Novo - era a ditadura de Vargas propiciando a estagnação do progresso. Alírio,
em 28/09/1940, assim escreve a Josino: “A despeito da propaganda do Estado Novo,
vemos, no Brasil, a mistificação administrativa, emitindo papel moeda e criando
impostos, para manter o privilégio das classes armadas. Bárbaros, incultos, viciados,
venais a maior parte dos soldados e oficiais."
Nesta carta, enviou-lhe dois sonetos escritos dois anos
antes, quando aqui veio em visita. Sinto no primeiro uma crítica da realidade e
no segundo a esperança dos que amam. E o leitor, que sentirá ao lê-los? (Reprodução
abaixo):
Visita à Terra Natal
Depois de longos anos
de ausência.
Voltei à minha terra.
ansioso.
Por sabê-la pobre e em
decadência,
Num abandono injusto e
lastimoso
Senti dos campos a beleza
e essência.
Em um contraste rude e
doloroso
Com a cidade imunda. e
na indigência.
Um povo outrora próspero
e ditoso.
Vendeu-se das igrejas
o tesouro,
E a pobreza por sobre
aluviões de ouro
faiscava nas praias-.com
espanto,
Deixei a minha terra em
agonia.
Com a extrema unção da
Prelazia,
Adorado o prelado como
um santo
PARACATU
TU TORNARÁS A SER QUEM
ERA DANTES!
Rodrigues Lobo
Caro Paracatu, quão diferente
Te vejo e vi. Porque tudo
que existe
Do teu passado me parece
o triste
Escombro da cidade cruelmente
Abandonada e pobre e decadente,
Que à luta voltar já não
resistem
Teu trabalho de outrora
em que consiste?
E o teu povo tão rico
está descrente?
Quem foi rainha, sempre
é majestade
Na tua antiga corte, a
mocidade
Cursara academias mais
distantes.
Dessa cultura, pois entre
ruínas,
Como o ouro brotando em
novas minas,
TU TORNARÁS A SER QUEM
ERA DANTES!
1954 - Temia que, com Juscelino no poder, a República
viesse à falência, pois escreveu: "O regime corrompido não resistirá a um governo
demagógico e voador como é do nosso Estado, com a famosa administração revolucionária,
binominal. Energia, transporte e alimentação este trinômio será, no futuro quatriênio,
se eleito o Binômio, a falência da República!'. Em 8 de dezembro deste mesmo ano,
ele dizia: "Desejo terminar os meus dias aí, mas na fazenda do São Pedro, onde
farei um campo de aviação para que meus filhos possam me visitar ou eu a eles. Estou
tapeando minha moléstia, para ter, ao menos o prazer de morrer no sertão, livre
dos serviços de luto dessa capital".
1961 - Falece em Belo Horizonte e seu corpo é sepultado
em Paracatu, realizando assim parte de seu desejo.
1996 - Paracatu completa cento e noventa e oito anos.
E, numa homenagem à terra natal do escritor de "O Centenário de Paracatu",
o jornalista Alírio Carneiro, desvendamos parte de sua vida, de sua privacidade.
Um imortal precisa ser conhecido e valorizado pelos seus concidadãos. A memória
de um povo não tem que ser a ele devolvida?
CORRESPONDÊNCIAS E DISCURSOS DE JOSINO NEIVA
A disponibilização das correspondências trocadas, principalmente, com seus amigos, até o ano de 1964 é por iniciativa da sua filha Coraci, que diligentemente as guardou, sempre acalentando o sonho de mostrar à posteridade uma pessoa que ela tanto admirava e que exerceu influência em todos os lugares onde viveu, por sua inteligência, carisma, humanismo e espírito público.
A disponibilização desses documentos, por se tratar de centenas de correspondências, ocorrerá gradativamente. Por enquanto, e também para testar a aplicabilidade de divulgação através deste Blog, estão colocadas à público as correspondências datadas de 1909 a 1936.
Para acessar os documentos, clique em:
Josino Neiva 1909-1936
Josino Neiva 1936 - 1950
Josino Neiva 1950 - 1954
Josino Neiva 1954 - 1960
Josino Neiva 1960 - 1964
Prelazia de Paracatu
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