Patrono da Cadeira 37
Marcos
Spagnuolo Souza
A nossa história inicia com o Dr. Francisco Garcia Adjuto
que nasceu em 16 de Janeiro de 1787, batizado na Igreja de Santa Engrácia,
Lisboa, Portugal. Bacharelou-se em Direito Canônico pela Universidade
de Coimbra em 1809. A partir de então exerceu cargos no judiciário de Lisboa no
decorrer da década de 1810. No dia 13 de maio de 1821, foi nomeado Ouvidor
Geral de Vila Rica (Ouro Preto). A 12 de outubro de 1826 é nomeado Ouvidor
da Vila de Paracatu do Príncipe, tomando posse no início de 1827. Casou com
Gertrudes de Oliveira Campos em 1828. União de uma nobreza portuguesa com
possuidores de grandes extensões de terra no Brasil, a família Campos, pois,
Gertrudes de Oliveira Campos, casada com o velho ouvidor, era neta de Inácio de
Oliveira Campos que era neto do bandeirante Antônio Rodrigues Velho e Joaquina
Bernarda de Abreu Campos a lendária Joaquina de Pompeu, latifundiária e suas
terras abrangiam a região hoje compreendidas pelos municípios de Pompéu,
Pitangui, Paracatu, Abaeté e Dores de Indaiá.
No
ano de 1839 o Dr. Francisco Garcia Adjuto foi nomeado Juiz de Direito
substituto pela Câmara Municipal de Paracatu, permanecendo até 1842. Com o
surgimento da Revolta Liberal em Minas Gerais, os adeptos do Partido
Liberal, em maioria na Câmara Municipal de Paracatu, o confirmaram no cargo de
Juiz de Direito interino da Comarca. A partir daí, com a derrota dos Liberais,
e o seu consequente afastamento do cargo, não se obteve mais informações sobre
o velho Ouvidor. Da união de Dr Francisco Garcia Adjuto com Gertrudes de
Oliveira Campos nasceu o Capitão Francisco Garcia Adjuto em 1829 e Ignácio
Garcia Adjuto em 1830.
O
filho do antigo Ouvidor de Paracatu o Capitão Francisco Garcia Adjuto casou com
sua prima Ana Cornélia de Abreu falecida em 1918. Dessa união nasceram seis
filhos, sendo eles: Josefina Garcia Adjuto; Gabriela Garcia Adjuto;
Coronel Rodolfo Garcia Adjuto; Capitão Francisco Garcia Adjuto; Alonso Garcia
Adjuto; Amélia Garcia Adjuto; Júlia Garcia Adjuto.
Centramos
a nossa pesquisa em Alonso Garcia Adjuto. Ele nasceu e foi batizado na freguesia
de Santana dos Alegres (atual João Pinheiro), distrito de Paracatu, no ano de
1863. Iniciou os seus estudos
na terra natal e logo depois foi estudar no Seminário Arquidiocesano
Sagrado Coração de Jesus de Diamantina, situado no largo Dom João que foi fundado
no dia 12 fevereiro de 1867 pelos padres Lazaristas. No ano de 1881
matriculou-se na Escola Politécnica do Rio de Janeiro onde estudou durante um
ano. A Escola Politécnica possui sua origem direta na Academia Real Militar
fundada em 4 de dezembro de 1810 pelo Príncipe Regente, futuro Rei D. João VI,
posteriormente foi denominada Escola Nacional de Engenharia, sendo atualmente a
Escola de Engenharia da UFRJ. Transferiu-se para a escola de Medicina e,
durante 04 anos, cursou os estudos médicos. Abandonou o curso de Medicina para
estudar as línguas clássicas e modernas. Ingressou na Faculdade de Direito,
bacharelando-se, dedicando-se também ao estudo de filosofia.
Alonso
casou com Carolina Eliza de Souza Adjuto.
A respeito desse casamento, o senhor José Maria Porto Adjuto (Zé do
Bamba), representante da terceira geração
do irmão de Alonso Garcia Adjuto (Rodolfo Garcia Adjuto) nos conta que circula na História da Família
que: “Alonso estava em um bonde no Rio de Janeiro e em sua frente sentou uma
jovem que em determinado ponto desceu do bonde e entrou em sua casa, fato que
foi acompanhado por Alonso. Logo depois Alonso bate na porta da casa da jovem
sendo atendido pelo pai da moça. O jovem perguntou se ele era o progenitor
daquela donzela recebendo resposta afirmativa, então Alonso disse que estava
ali para pedir a mão da moça em casamento. O pai entrou e disse a moça que na
porta da casa estava um rapaz que a pedia em casamento e ela imediatamente
respondeu que aceitava”. Poucos dias (15 de junho de 1892) os dois casaram no
Outeiro da Gloria, Rio de Janeiro. Dessa união nasceu Eugênia Adjuto Porto que
casou em 20/06/1918 com o médico Mário Faustino Porto, natural do Recife, filho
do comendador José Faustino Porto, abolicionista, político, industrial e professor
de Inglês no Ginásio Pernambucano, em Recife.
O Jornal
Liberal Mineiro de 1882, edição37 publica o resultado dos exames perante a
delegacia especial da instrução primária e secundária do município da corte,
conforme o aviso do ministério dos negócios do império de 28 de janeiro do
corrente ano foi aprovado com distinção Alonso Garcia Adjuto para lecionar
Português.
Na República foi nomeado professor de grego do
externato no Ginásio Nacional, sendo que o referido ginásio era o Colégio de
Pedro II, hoje Colégio Pedro II que entre os anos de 1890 a 1910, em
razão da proclamação da República, teve seu nome modificado para Ginásio
Nacional, numa tentativa de estabelecer uma nova memória para instituição que
não estivesse ligada ao imperador D. Pedro II.
O colégio foi criado em 1837, como parte do
projeto do império de constituir uma nacionalidade, em meio à ocorrências da
revoltas nas províncias brasileiras. Os alunos ao concluírem o curso recebiam o
título de bacharel em letras, privilégio reservado apenas aos estudantes do
Colégio de Pedro II, e assim podiam ter acesso direto aos cursos superiores.
O
ministro da Justiça do império, Bernardo Pereira de Vasconcelos, abordou a
importância de o Brasil possuir, uma instituição de ensino capaz de prover uma
formação intelectual comparável à dos melhores colégios europeus. Vasconcelos
fez questão de ressaltar que os professores sendo indivíduos dotados de vasto
saber teriam a responsabilidade na formação dos futuros membros dos quadros
políticos e administrativos do império como também na aquisição e na
consolidação do prestígio da primeira instituição pública de ensino secundário
do Brasil. Normalmente selecionados entre os membros da comunidade letrada do
império, os primeiros grupos de professores do colégio frequentavam os
principais círculos intelectuais e culturais do Brasil.
Mesmo
diante da alta importância do Colégio de Pedro II os salários dos professores
eram considerados aviltantes para a época, sendo que, também ocorria diferenças
salarias entre os professores que ministravam as mesmas matéria e possuíam a
mesma quantidade de horas/aula. O requerimento do professor de francês,
Francisco Maria Piquet, datado de 2 de janeiro de 1843, descreve o
descontentamento dos docentes com o salário de 500$000 réis anuais frente à
existência de professores de outras cadeiras que davam menos lições, no entanto
tinham um ordenado superior a muitos outros professores.
No
decorrer do século XIX, o acesso ao quadro docente do Colégio de Pedro II se
deu por duas vias principais: a nomeação ou o concurso. Alguns professores
concursados e nomeados foram considerados figuras de destaque na trajetória
histórica da instituição no século XIX e início do século XX, sendo eles: 1:
Manuel de Araújo Porto Alegre e o Barão de Santo Ângelo foram professores de
Desenho. A
primeira caricatura publicada no Brasil foi uma charge política de autoria de
Manuel de Araújo Porto Alegre, em 1836, durante o período regencial sendo
lembrado como o pioneiro da caricatura brasileira. 2) Barão Homem de
Mello , professor de História Geral, cartógrafo ilustre e político, político,
ministro do Império. 3) Aureliano Pimentel foi reitor do externato, leccionou
português e literatura. 4) Alfredo Moreira Pinto, foi professor de Geografia e
História, autor do dicionário geográfico do Brasil 5) Capistrano de Abreu,
grande historiador. 6) Frei Camillo de Monserrate, foi professor ilustre de
História e Geografia e Diretor da Biblioteca Nacional. 7) Arthur Higgins foi
professor de ginástica; inventor nacional com numerosas patentes. 8) Floriano
de Brito, professor de Francês e foi também político, deputado federal. 9)
Raymundo de Farias Brito professor de Logica 10) Euclydes da Cunha professor de
filosofia. 11) Silva Ramos professor emérito de Português, poeta, filólogo,
primoroso estilista, membro da Acadêmica Brasileira. 12) Gonçalves Dias o nosso
maior poeta, foi professor de latim. O elo que unia todos esses professores
eram os livros e muitos deles eram escritores, jornalistas e autores de livros
didáticos.
Entre
todos esses eminentes professores que fizeram a História da Educação no Brasil
está Alonso Garcia Adjuto, professor de grego erudito e sábio. O nome Alonso
Garcia Adjuto está salientado em vários artigos e revistas entre as primeiras
gerações de professores, caracterizados como notáveis homens de saber, que
atuaram no Colégio de Pedro II.
Alonso
Garcia Adjuto faleceu no dia 05 de dezembro de 1897. A Gazeta de Notícias
publicou no dia 06 de dezembro de 1897 que faleceu no dia anterior, depois de
rápida enfermidade que o vitimou em pouco mais de vinte e quatro horas. Foi
enterrado logo após ao seu falecimento, não permitindo a seus amigos dar-lhes a
prova extrema do alto apreço e estima em que era tido. Salientamos que
provavelmente a morte de Alonso Garcia Adjuto tenha ocorrido devido a uma das
doenças contagiosas pela qual a população do Rio de Janeiro era submetida. São inúmeros os relatos de morbidade e mortalidade por
tuberculose no Rio de Janeiro, especialmente na área urbana. Em meados do
século XIX a doença que mais matava no Rio de Janeiro era, justamente, a tuberculose, sendo seguida pela Febre
Amarela, Peste Bubônica e Varíola. A historiadora Maria Luiza Marcílio
comentando sobre a mortalidade e morbidade da cidade do Rio de Janeiro no
século XIX salienta que “chega a ser difícil para nós hoje entender como faziam
para viver as pessoas do Rio de Janeiro face às múltiplas doenças
infectocontagiosas e epidêmicas que as atacavam conjuntamente, a cada ano. A
partir da segunda metade do século XIX, por exemplo, de acordo com as
declarações do médico da época Dr. Pereira Rego, 50 epidemias atingiram a
população da cidade”.
Em
síntese, ficou evidente que muito pouco conhecemos em termos de historiografia
sobre Alonso Garcia Adjuto e o apresentamos dentro do que foi possível dele
colher, a título de informação, não significando a sua diminuição dentro do
contexto histórico. Nasceu na cidade de João Pinheiro no ano de 1863, iniciou
seus estudos em sua cidade natal, posteriormente foi estudar na condição de
interno no seminário de Diamantina. Realçamos que a única maneira de avançar
nos estudos em Minas Gerais era, justamente matricular-se em um seminário que
destinava não somente aos indivíduos que almejava se tornar padres, mas também
a todos aqueles que tinham condições financeira privilegiada para usufruir de
tal ensino. Terminando os estudos, que
atualmente se refere ao ensino médio, matriculou-se na escola de
medicina na cidade do Rio de Janeiro, transferindo-se posteriormente para o
curso de direito. Dedicou-se imensamente aos estudos dos idiomas clássicos
principalmente o grego. Na República foi nomeado professor de grego do
externato no Ginásio Nacional, sendo que o referido ginásio era o Colégio de
Pedro II, hoje Colégio Pedro II . Lecionou, aproximadamente, durante quinze
anos. Durante esse período foi um professor dedicado, tanto que na comemoração
acerca das primeiras gerações de
professores do Colégio Pedro II, publicado na Revista da Semana, o nome de Alonso Garcia Adjuto é
realçado como estando entre os gloriosos
professores da nação brasileira. Faleceu no dia 5 de dezembro de 1897 de uma
enfermidade que o vitimou em menos de quatro horas, provavelmente, a causa de
sua morte foi a tuberculose.
Podemos
dizer que a vida de Alonso Garcia Adjuto foi caracterizada pelo magistério, que
naquela época, os professores eram pessoas de grande importância no universo
acadêmico. Alonso viveu para estudar e ensinar, para compartilhar conhecimento,
indicando caminhos para as pessoas crescerem, e para isso, criou vínculos, se
aproximou e compreendeu o outro. Morreu ainda jovem, com a idade de 34 anos,
mas deixou conhecimentos na consciência das pessoas e mostrou a necessidade de
centralizar nos seus objetivos, conseguindo ser um eminente professor do
Colégio Dom Pedro II. A lembrança de um emérito professor, nos leva hoje, 154
anos depois do seu nascimento a homenageá-lo na Academia de Letras do Noroeste
Mineiro.
Bibliografia Consultada
Jornal Liberal Mineiro. Ed 37 de 28 janeiro de
1882. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/Hotpage/HotpageBN.aspx?bib=248240&pagfis=107&url=http://memoria.bn.br/docreader#. Acesso em 19 julho 2017.
MELLO, Oliveira. Vidas e Vozes: no caminho da
história. Paracatu: Ed de Faculdade Finon, 2015.
MARCILIO, Maria Luiza. MORTALIDADE E
MORBIDADE DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO IMPERIAL. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/viewFile/18689/20752. Acesso em 11 julho 2017.
PATROCLO, Luciana Borges; Lopes, Ivone Goulart;
CRAVO, Regina Lucia Ferreira. Revista da Semana: Verdadeiras glórias nacionais: a
memória acerca das primeiras gerações de professores do Colégio de Pedro II.
Disponível em http://www.rbhe.sbhe.org.br/index.php/rbhe/article/viewFile/836/pdf_80. Acesso em 19 julho 2017.
ROCHA, Eduardo: Necrologia – Dr Alonso Garcia
Adjuto. Disponível em http://araposadachapada.blogspot.com.br. Acesso em 19 julho 2017.
ROCHA, Eduardo: Necrologia – Dr Alonso Garcia
Adjuto. Disponível em https://araposadachapada.blogspot.com.br/2007/05/ouvidor-francisco-garcia-adjuto.html. Acesso em 01 Setembro 2017.