quinta-feira, 21 de setembro de 2017

BIOGRAFIA DE ALONSO GARCIA ADJUTO

Patrono da Cadeira 37

Marcos Spagnuolo Souza

A nossa história inicia com o Dr. Francisco Garcia Adjuto que nasceu em 16 de Janeiro de 1787, batizado na Igreja de Santa Engrácia, Lisboa, Portugal. Bacharelou-se em Direito Canônico pela Universidade de Coimbra em 1809. A partir de então exerceu cargos no judiciário de Lisboa no decorrer da década de 1810. No dia 13 de maio de 1821, foi nomeado Ouvidor Geral de Vila Rica (Ouro Preto). A 12 de outubro de 1826 é nomeado Ouvidor da Vila de Paracatu do Príncipe, tomando posse no início de 1827. Casou com Gertrudes de Oliveira Campos em 1828. União de uma nobreza portuguesa com possuidores de grandes extensões de terra no Brasil, a família Campos, pois, Gertrudes de Oliveira Campos, casada com o velho ouvidor, era neta de Inácio de Oliveira Campos que era neto do bandeirante Antônio Rodrigues Velho e Joaquina Bernarda de Abreu Campos a lendária Joaquina de Pompeu, latifundiária e suas terras abrangiam a região hoje compreendidas pelos municípios de Pompéu, Pitangui, Paracatu, Abaeté e Dores de Indaiá.
No ano de 1839 o Dr. Francisco Garcia Adjuto foi nomeado Juiz de Direito substituto pela Câmara Municipal de Paracatu, permanecendo até 1842. Com o surgimento da Revolta Liberal em Minas Gerais, os adeptos do Partido Liberal, em maioria na Câmara Municipal de Paracatu, o confirmaram no cargo de Juiz de Direito interino da Comarca. A partir daí, com a derrota dos Liberais, e o seu consequente afastamento do cargo, não se obteve mais informações sobre o velho Ouvidor. Da união de Dr Francisco Garcia Adjuto com Gertrudes de Oliveira Campos nasceu o Capitão Francisco Garcia Adjuto em 1829 e Ignácio Garcia Adjuto em 1830.
O filho do antigo Ouvidor de Paracatu o Capitão Francisco Garcia Adjuto casou com sua prima Ana Cornélia de Abreu falecida em 1918. Dessa união nasceram seis filhos, sendo eles: Josefina Garcia Adjuto; Gabriela Garcia Adjuto; Coronel Rodolfo Garcia Adjuto; Capitão Francisco Garcia Adjuto; Alonso Garcia Adjuto; Amélia Garcia Adjuto; Júlia Garcia Adjuto.
Centramos a nossa pesquisa em Alonso Garcia Adjuto. Ele nasceu e foi batizado na freguesia de Santana dos Alegres (atual João Pinheiro), distrito de Paracatu, no ano de 1863. Iniciou os seus estudos na terra natal e logo depois foi estudar no Seminário Arquidiocesano Sagrado Coração de Jesus de Diamantina, situado no largo Dom João que foi fundado no dia 12 fevereiro de 1867 pelos padres Lazaristas. No ano de 1881 matriculou-se na Escola Politécnica do Rio de Janeiro onde estudou durante um ano. A Escola Politécnica possui sua origem direta na Academia Real Militar fundada em 4 de dezembro de 1810 pelo Príncipe Regente, futuro Rei D. João VI, posteriormente foi denominada Escola Nacional de Engenharia, sendo atualmente a Escola de Engenharia da UFRJ. Transferiu-se para a escola de Medicina e, durante 04 anos, cursou os estudos médicos. Abandonou o curso de Medicina para estudar as línguas clássicas e modernas. Ingressou na Faculdade de Direito, bacharelando-se, dedicando-se também ao estudo de filosofia.
Alonso casou com Carolina Eliza de Souza Adjuto.  A respeito desse casamento, o senhor José Maria Porto Adjuto (Zé do Bamba), representante da terceira geração  do irmão de Alonso Garcia Adjuto (Rodolfo Garcia Adjuto)  nos conta que circula na História da Família que: “Alonso estava em um bonde no Rio de Janeiro e em sua frente sentou uma jovem que em determinado ponto desceu do bonde e entrou em sua casa, fato que foi acompanhado por Alonso. Logo depois Alonso bate na porta da casa da jovem sendo atendido pelo pai da moça. O jovem perguntou se ele era o progenitor daquela donzela recebendo resposta afirmativa, então Alonso disse que estava ali para pedir a mão da moça em casamento. O pai entrou e disse a moça que na porta da casa estava um rapaz que a pedia em casamento e ela imediatamente respondeu que aceitava”. Poucos dias (15 de junho de 1892) os dois casaram no Outeiro da Gloria, Rio de Janeiro. Dessa união nasceu Eugênia Adjuto Porto que casou em 20/06/1918 com o médico Mário Faustino Porto, natural do Recife, filho do comendador José Faustino Porto, abolicionista, político, industrial e professor de Inglês no Ginásio Pernambucano, em Recife.
O Jornal Liberal Mineiro de 1882, edição37 publica o resultado dos exames perante a delegacia especial da instrução primária e secundária do município da corte, conforme o aviso do ministério dos negócios do império de 28 de janeiro do corrente ano foi aprovado com distinção Alonso Garcia Adjuto para lecionar Português.

Na República foi nomeado professor de grego do externato no Ginásio Nacional, sendo que o referido ginásio era o Colégio de Pedro II, hoje Colégio Pedro II que entre os anos de 1890 a 1910, em razão da proclamação da República, teve seu nome modificado para Ginásio Nacional, numa tentativa de estabelecer uma nova memória para instituição que não estivesse ligada ao imperador D. Pedro II.
O colégio foi criado em 1837, como parte do projeto do império de constituir uma nacionalidade, em meio à ocorrências da revoltas nas províncias brasileiras. Os alunos ao concluírem o curso recebiam o título de bacharel em letras, privilégio reservado apenas aos estudantes do Colégio de Pedro II, e assim podiam ter acesso direto aos cursos superiores.
O ministro da Justiça do império, Bernardo Pereira de Vasconcelos, abordou a importância de o Brasil possuir, uma instituição de ensino capaz de prover uma formação intelectual comparável à dos melhores colégios europeus. Vasconcelos fez questão de ressaltar que os professores sendo indivíduos dotados de vasto saber teriam a responsabilidade na formação dos futuros membros dos quadros políticos e administrativos do império como também na aquisição e na consolidação do prestígio da primeira instituição pública de ensino secundário do Brasil. Normalmente selecionados entre os membros da comunidade letrada do império, os primeiros grupos de professores do colégio frequentavam os principais círculos intelectuais e culturais do Brasil.

Mesmo diante da alta importância do Colégio de Pedro II os salários dos professores eram considerados aviltantes para a época, sendo que, também ocorria diferenças salarias entre os professores que ministravam as mesmas matéria e possuíam a mesma quantidade de horas/aula. O requerimento do professor de francês, Francisco Maria Piquet, datado de 2 de janeiro de 1843, descreve o descontentamento dos docentes com o salário de 500$000 réis anuais frente à existência de professores de outras cadeiras que davam menos lições, no entanto tinham um ordenado superior a muitos outros professores.

No decorrer do século XIX, o acesso ao quadro docente do Colégio de Pedro II se deu por duas vias principais: a nomeação ou o concurso. Alguns professores concursados e nomeados foram considerados figuras de destaque na trajetória histórica da instituição no século XIX e início do século XX, sendo eles: 1: Manuel de Araújo Porto Alegre e o Barão de Santo Ângelo foram professores de Desenho.  A primeira caricatura publicada no Brasil foi uma charge política de autoria de Manuel de Araújo Porto Alegre, em 1836, durante o período regencial sendo lembrado como o pioneiro da caricatura brasileira. 2) Barão Homem de Mello , professor de História Geral, cartógrafo ilustre e político, político, ministro do Império. 3) Aureliano Pimentel foi reitor do externato, leccionou português e literatura. 4) Alfredo Moreira Pinto, foi professor de Geografia e História, autor do dicionário geográfico do Brasil 5) Capistrano de Abreu, grande historiador. 6) Frei Camillo de Monserrate, foi professor ilustre de História e Geografia e Diretor da Biblioteca Nacional. 7) Arthur Higgins foi professor de ginástica; inventor nacional com numerosas patentes. 8) Floriano de Brito, professor de Francês e foi também político, deputado federal. 9) Raymundo de Farias Brito professor de Logica 10) Euclydes da Cunha professor de filosofia. 11) Silva Ramos professor emérito de Português, poeta, filólogo, primoroso estilista, membro da Acadêmica Brasileira. 12) Gonçalves Dias o nosso maior poeta, foi professor de latim. O elo que unia todos esses professores eram os livros e muitos deles eram escritores, jornalistas e autores de livros didáticos.

Entre todos esses eminentes professores que fizeram a História da Educação no Brasil está Alonso Garcia Adjuto, professor de grego erudito e sábio. O nome Alonso Garcia Adjuto está salientado em vários artigos e revistas entre as primeiras gerações de professores, caracterizados como notáveis homens de saber, que atuaram no Colégio de Pedro II.

Alonso Garcia Adjuto faleceu no dia 05 de dezembro de 1897. A Gazeta de Notícias publicou no dia 06 de dezembro de 1897 que faleceu no dia anterior, depois de rápida enfermidade que o vitimou em pouco mais de vinte e quatro horas. Foi enterrado logo após ao seu falecimento, não permitindo a seus amigos dar-lhes a prova extrema do alto apreço e estima em que era tido. Salientamos que provavelmente a morte de Alonso Garcia Adjuto tenha ocorrido devido a uma das doenças contagiosas pela qual a população do Rio de Janeiro era submetida. São inúmeros os relatos de morbidade e mortalidade por tuberculose no Rio de Janeiro, especialmente na área urbana. Em meados do século XIX a doença que mais matava no Rio de Janeiro era, justamente,  a tuberculose, sendo seguida pela Febre Amarela, Peste Bubônica e Varíola. A historiadora Maria Luiza Marcílio comentando sobre a mortalidade e morbidade da cidade do Rio de Janeiro no século XIX salienta que “chega a ser difícil para nós hoje entender como faziam para viver as pessoas do Rio de Janeiro face às múltiplas doenças infectocontagiosas e epidêmicas que as atacavam conjuntamente, a cada ano. A partir da segunda metade do século XIX, por exemplo, de acordo com as declarações do médico da época Dr. Pereira Rego, 50 epidemias atingiram a população da cidade”.

Em síntese, ficou evidente que muito pouco conhecemos em termos de historiografia sobre Alonso Garcia Adjuto e o apresentamos dentro do que foi possível dele colher, a título de informação, não significando a sua diminuição dentro do contexto histórico. Nasceu na cidade de João Pinheiro no ano de 1863, iniciou seus estudos em sua cidade natal, posteriormente foi estudar na condição de interno no seminário de Diamantina. Realçamos que a única maneira de avançar nos estudos em Minas Gerais era, justamente matricular-se em um seminário que destinava não somente aos indivíduos que almejava se tornar padres, mas também a todos aqueles que tinham condições financeira privilegiada para usufruir de tal ensino. Terminando os estudos, que  atualmente se refere ao ensino médio, matriculou-se na escola de medicina na cidade do Rio de Janeiro, transferindo-se posteriormente para o curso de direito. Dedicou-se imensamente aos estudos dos idiomas clássicos principalmente o grego. Na República foi nomeado professor de grego do externato no Ginásio Nacional, sendo que o referido ginásio era o Colégio de Pedro II, hoje Colégio Pedro II . Lecionou, aproximadamente, durante quinze anos. Durante esse período foi um professor dedicado, tanto que na comemoração acerca das primeiras gerações  de professores do Colégio Pedro II, publicado na Revista da Semana,  o nome de Alonso Garcia Adjuto é realçado  como estando entre os gloriosos professores da nação brasileira. Faleceu no dia 5 de dezembro de 1897 de uma enfermidade que o vitimou em menos de quatro horas, provavelmente, a causa de sua morte foi a tuberculose.

Podemos dizer que a vida de Alonso Garcia Adjuto foi caracterizada pelo magistério, que naquela época, os professores eram pessoas de grande importância no universo acadêmico. Alonso viveu para estudar e ensinar, para compartilhar conhecimento, indicando caminhos para as pessoas crescerem, e para isso, criou vínculos, se aproximou e compreendeu o outro. Morreu ainda jovem, com a idade de 34 anos, mas deixou conhecimentos na consciência das pessoas e mostrou a necessidade de centralizar nos seus objetivos, conseguindo ser um eminente professor do Colégio Dom Pedro II. A lembrança de um emérito professor, nos leva hoje, 154 anos depois do seu nascimento a homenageá-lo na Academia de Letras do Noroeste Mineiro.

Bibliografia Consultada

Jornal Liberal Mineiro. Ed 37 de 28 janeiro de 1882. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/Hotpage/HotpageBN.aspx?bib=248240&pagfis=107&url=http://memoria.bn.br/docreader#. Acesso em 19 julho 2017.
MELLO, Oliveira. Vidas e Vozes: no caminho da história. Paracatu: Ed de Faculdade Finon, 2015.
MARCILIO, Maria Luiza. MORTALIDADE E MORBIDADE DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO IMPERIAL. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/viewFile/18689/20752. Acesso em 11 julho 2017.
PATROCLO, Luciana Borges; Lopes, Ivone Goulart; CRAVO, Regina Lucia Ferreira. Revista da Semana: Verdadeiras glórias nacionais: a memória acerca das primeiras gerações de professores do Colégio de Pedro II. Disponível em http://www.rbhe.sbhe.org.br/index.php/rbhe/article/viewFile/836/pdf_80. Acesso em 19 julho 2017.
ROCHA, Eduardo: Necrologia – Dr Alonso Garcia Adjuto. Disponível em http://araposadachapada.blogspot.com.br. Acesso em 19 julho 2017.

ROCHA, Eduardo: Necrologia – Dr Alonso Garcia Adjuto. Disponível em https://araposadachapada.blogspot.com.br/2007/05/ouvidor-francisco-garcia-adjuto.html. Acesso em 01 Setembro 2017.

2 comentários:

  1. Parabéns Marcos por trazer informações sobre mais um patrono da nossa academia.

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  2. Parabéns Marcos por trazer informações sobre mais um patrono da nossa academia.

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