Reunidos em cerimonial no dia 6 de dezembro de 2018, os acadêmicos da Academia de Letras do Noroeste de Minas deram posse solene a Maria Célia da Silva Gonçalves, que passou a ocupar a Cadeira N.º 35. patroneada pelo escritor Bernardo Élis Fleury de Campos Curado, sendo seus antecessores Lauro Campos e Pauliran Resende.
A abertura da cerimônia foi feita pela Presidente da ALNM, Helen Ulhoa Pimentel, que assim se dirigiu à recipiendária:
A sua presença no nosso meio é a prova de que o esforço, a luta, os estudos compensam. Simboliza também a presença de múltiplas habilidades, a capacidade de sair da zona de conforto e enfrentar novos desafios. Uma biografia rica como a sua, que mostrarei em seguida, merece ser destacada.Sua atuação como produtora de conhecimentos é que a torna digna de ocupar uma cadeira nessa academia, pois é com publicações que nos imortalizamos e imortalizamos os conhecimentos que adquirimos. Como já disse em sessões anteriores, a alcunha de “imortais” que recebemos simboliza exatamente isso. Que deixamos nossas marcas para a posteridade, que seremos lembrados pelo que produzimos, pelo que fizemos, pelo que deixamos cunhado sobre o papel ou nos registros digitais tão comuns hoje em dia.
E concluiu:
Abraçamos um ideal cultural ao assumirmos uma cadeira em uma Academia de Letras. Assumimos a responsabilidade de levar a luz do saber a quantos pudermos alcançar. Desejo sucesso em sua caminhada e muita luz para clarear seus caminhos e os caminhos dos que forem beber em seus conhecimentos.
Para ler a saudação de Helen, clique AQUI.
No ritual de posse da ALNM, via de regra a apresentação novo confrade/confreira é feita por um dos acadêmicos que não a presidente da entidade. Porém, em vista da data escolhida para a cerimônia, quase todos os sócios estavam impedidos de participar, devido a compromissos de trabalho.
Sendo assim, foi a própria Presidente Helen Pimentel que fez a apresentação de Maria Célia à Academia, assim se expressando:
Conheci a
professora Maria Célia quando fui lecionar na FINOM no ano de 1994. Era uma
jovem professora, muito empolgada com tudo o que fazia. E como trabalhava!!!!!
Vinha todos os dias de João Pinheiro para cá, trabalhava lá também durante o
dia e começava a fazer seus intermináveis estudos.
Na época
cursou especialização em História pela
Universidade Federal de Minas -UFMG (1998) e ia para BH toda semana. Ia
de ônibus, após aula de dia em João Pinheiro e aqui à noite. Me dizia que se
deitava no corredor do ônibus e dormia. Lá chegando, estudava o dia todo e
voltava.
Seu currículo é bem diversificado, mostrando que ela foi se
adaptando às exigências do mercado de trabalho: se graduou em Estudos Sociais
(1989) e em História (1991) pela Faculdade do Noroeste de Minas (FINOM) e em
Geografia (2012) pela Faculdade Cidade de João Pinheiro (FCJP); complementou
com especialização
Supervisão Escolar (1993) pelas Faculdades Integradas de São Gonçalo; Especialização em História do
Mundo Moderno e Contemporâneo (1994); Especialização
em Psicopedagogia (2000); Fez o mestrado em História
pela Universidade de Brasília (2003); e o doutorado em Sociologia também pela Universidade de Brasília
(2010); cursou Especialização
em Metodologia do Ensino e Tecnologias para a EAD (2008); Especialização em
Engenharia e Inovação (2015); partiu para o Pós-Doutorado. O primeiro foi pela
Universidade de Évora, Portugal (2017); depois outro pela Universidade Católica
de Brasília, UCB/DF, (2018); e ainda realizou um Estágio pós-doutoral na
UNIVERSITÀ DEGLI STUDI DEL SANNIO - (Beneveto- Itália) (2018).
Participou de Curso em Havana (Cuba) e de Congressos Internacionais
no Chile, Bogotá na Colômbia, Salamanca na Espanha, Nápoles e Pádova na Itália,
emocionando-se ao percorrer os espaços acadêmicos onde estudou e lecionou
Galileu Galilei. Participou de diversos Congressos Nacionais em Universidades
Brasileiras, entre elas, UnB, UFMG, UFG, UFPI, UFBA, UNICAMP, USP, UFRJ, UFF
Atua como professora
de História do Direito, Sociologia e Metodologia Científica Faculdade do
Noroeste de Minas (FINOM). É coordenadora do Núcleo de Pesquisa e Iniciação
Científica e Professora de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) nos cursos de
Pedagogia, Administração da Faculdade Cidade de João Pinheiro (FCJP).
Presidente do Conselho Municipal do Patrimônio Cultural de João Pinheiro (MG).
Atualmente é pesquisadora do Comunidade Escolar: Encontros e Diálogos
Educativos - CEEDE, do Programa de Pós- Graduação em Educação da UCB; e
Investigadora visitante no CIDEHUS - Centro Interdisciplinar de História,
Culturas e Sociedades da Universidade de Évora em Portugal. Tem experiência na
área de História e Sociologia, atuando principalmente nos seguintes temas:
artes-folia- festas- cultura popular-performance- identidade e memória. Suas
linhas de pesquisa são: História cultural, sociologia da cultura e
vulnerabilidade social em saúde.
É membro do corpo
editorial de diversas revistas; recebeu diversos prêmios e títulos; é autora de
40 artigos publicados em revistas; de 6 livros publicados ou organizados; 17
capítulos de livros; 45 artigos em jornais; 16 artigos publicados em anais de
congressos. Foi editora de 16 periódicos, orientou inumeráveis alunos na
graduação, especialização, mestrado e doutorado e participou também de inúmeras
bancas de conclusões de cursos.
Nossa
aventura na pesquisa teve início com um projeto meu, apresentado ao então
prefeito de Paracatu, Almir Paraca, que queria lançar um livro de história de
Paracatu para comemorar o aniversário de 200 anos de Paracatu. Minha proposta
foi de não ficar apenas na publicação de um livro comemorativo, mas de criar
condições para que a história de Paracatu fosse preservada. Para isso era
necessário organizar o arquivo histórico, que havia sido criado, mas que não
oferecia condição de acesso aos documentos por não ter um inventário que
propiciasse saber que documentação existia ali. Era importante também registrar
memórias dos idosos que se perderiam se não fossem recolhidas e colocadas à
disposição dos pesquisadores; e era também importante formar novos
pesquisadores que pudessem escrever sobre nossa história.
A Prefeitura
e a Finom abraçaram a ideia e realizamos o Projeto Paracatu 200 anos que
resultou na publicação de um livro intitulado “Uma cidade Muitas histórias”,
com 6 capítulos, cada um de um desses aprendizes de pesquisadores, orientados
por duas doutoras em História: Rosana Ulhôa Botelho e Eleonora Zicari de Brito.
A Maria Célia contribuiu com o artigo denominado “A opulência das irmandades e
o culto à morte na Paracatu setecentista”. O Marcos Spagnuolo e a Help, hoje
também acadêmicos participaram desse projeto. Foram publicados também um “Guia
do Arquivo Público”, contendo o inventário que fizemos da documentação do
século XVIII, que enobrece o acervo do nosso importante Arquivo Municipal; e um
“Catálogo de História Oral”, com resumos das entrevistas concedidas por alguns
dos moradores mais velhos de Paracatu aos pesquisadores.
Essa
primeira pesquisa da professora Célia abriu seus horizontes para novos estudos.
Ela buscou lá no século XVIII informações para subsidiar sua dissertação de
mestrado que versou sobre as Irmandades Leigas da Paracatu Setecentista.
Conhecendo
a força dessa mulher, queria também conhecer um pouco da sua intimidade.
Solicitei a outra nova acadêmica, Giselda, que é amiga de longas datas da nossa
personagem principal de hoje que me enviasse um pouco mais sobre a
personalidade dela e é baseada nessas informações que continuo.
Ela
inicia afirmando a relevância do ingresso nessa academia de letras, da Maria
Célia, historiadora, mineira do interior, que conseguiu alçar voos que nunca
antes tinha imaginado alçar, que construiu condição de conhecer lugares
distantes qe nem sonhara conhecer, que construiu uma carreira profissional com
muito esforço e dedicação.
Ela
realça que Maria Célia é uma fonte de ideias
interessantes, mulher incansável e de caráter grandioso e diz que ela foi-se
fazendo assim... Aproveitando todas as oportunidades de crescimento e sempre se
dispondo a conhecer cada vez mais.
Sobre a família da qual é originária, afirma ser simples e
humilde, com pais de pequena experiência no mundo das letras, que, no entanto,
souberam fazer dela uma grande pessoa.
Viveu sua infância no município de são Gonçalo do Abaeté, onde
ajudava os pais na lida cotidiana. Sua principal diversão era a leitura. Seus
pais se mudaram para a “cidade” visando proporcionar às filhas a oportunidade
de estudar. Estudou em São Gonçalo a Educação Básica.
Sua mãe foi grande incentivadora da prática da leitura que se
iniciou quando ela era ainda muito jovem e que foi fundamental para despertar e
fortalecer o gosto pela pesquisa e escrita. Leu clássicos infantis, obras de
literatura brasileira, Filosofia e Sociologia, sendo frequentadora assídua da
Biblioteca, paixão que ainda permanece, estendendo-se aos Arquivos documentais
e à leitura de manuscritos.
Seus autores prediletos, pelos quais é apaixonada, são Fernando
Pessoa e Pablo Neruda, de tal modo que chorou de emoção ao adentrar e percorrer
os cômodos da casa barco deste último em Santiago por ocasião do Congresso
“ALAS” na Universidade do Chile.
Na juventude, mudou-se para João Pinheiro e casou-se com Delfim,
com quem teve dois filhos, Bárbara Donária e Leonardo Henrique, joias preciosas
em sua vida.
Artesã cuja matéria prima são letras e palavras tornou-se grande
incentivadora da produção acadêmico-científica no Noroeste de Minas sendo a
editora responsável pelas “Revista Altus Ciência” e Humanidades e Tecnologia.
A carreira profissional de Maria Célia, sua criatividade ao lidar
com a palavra escrita, dirigida ao público acadêmico e à população em geral,
situam-na em lugar privilegiado. Em 2011 e 2012 lançou o livro da história das
folias de reis de João Pinheiro e o livro “Histórias e Memórias: Experiências
compartilhadas em João Pinheiro. Publicou diversos capítulos de livros, artigos
em periódicos, revistas nacionais e internacionais e em Anais de Congressos
onde faz apresentações orais.
Atuou na Educação Básica do Estado de Minas por 17 anos e na
Secretaria Municipal de Educação por mais de uma década. No ensino Superior
atua desde 1995, iniciando sua carreira na docência no Ensino Superior no Curso
de História da FINOM, e com o tempo na Faculdade Cidade de João Pinheiro. Atuou
na Coordenação de Curso além de sua função de professora, sendo o ato de
ensinar sua grande paixão.
No âmbito de pesquisa é exemplo para muitos docentes e discentes
no trabalho incansável da pesquisa. Atualmente é pesquisadora integrante do
grupo de pesquisa “Comunidade Escolar: Encontros e Diálogos Educativos –
CEEDE”, do Programa de Pós- Graduação em Educação da UCB. Investigadora
visitante no CIDEHUS - Centro Interdisciplinar de História, Culturas e
Sociedades da Universidade de Évora em Portugal. Tem participado ativamente na
organização de livros, é membro da Comissão organizadora do CONNIC, líder de
grupo de pesquisa sobre gênero. Orientadora de trabalhos de graduação,
pós-graduação, participou de Bancas de Defesa de Mestrado e Doutorado na UFES,
UFJF.
Adotou Paracatu e João Pinheiro como locais de vivência, tendo
sido homenageada com o título de Cidadã honorária em João Pinheiro.
Presidente do Conselho Municipal de Patrimônio Histórico e
Cultural de João Pinheiro e do Conselho Gestor da Casa da Cultura, contribuindo
como voluntária para divulgação do Patrimônio histórico cultural do Noroeste,
pois, entende a cultura como elemento essencial na formação da identidade.
É oportuno ainda lembrar que mesmo com um currículo significativo,
mantém a humildade intelectual e o desejo constante pelo conhecimento. Sempre
se coloca “no lugar do outro” estando sempre disposta a ajudar a quem quer que
a procure.
Apesar de
estar puxando a brasa para a minha sardinha também, gostaria de encerrar
dizendo que o trabalho do historiador busca nos ajudar a entender um pouco
melhor a sociedade em que vivemos, seja reportando ao passado, seja saindo do
trivial que é também superficial, para penetrar nas entranhas da nossa formação
como indivíduos ou grupos sociais.
Ninguém é
impermeável às mazelas da sociedade em que vive e na qual se forma, mas como
seres pensantes não podemos nos manter cativos dos grilhões que tentam nos
fazer repetir indefinidamente atitudes que nos foram ensinadas. As tradições
devem ser respeitadas, mas também devem ser adaptadas, reescritas, reinventadas
e transformadas, de acordo com a nova consciência que surge em nós a cada
aprendizagem, a cada reflexão. Não estudamos em vão, ou pelo menos não devemos
nos manter impermeáveis às reflexões que fazemos por meio de leituras feitas em
profundidade.
A ideia
de respeito à diversidade, seja ela étnica, de gênero, de religião, de
nacionalidade ou outra qualquer é fruto do nosso amadurecimento como sociedade,
de reflexões e de muito sofrimento. A sociedade de hoje não pode admitir a
segregação racial, a hierarquização social que caracterizou esse período da
história onde as irmandades que a Célia estudou floresceram, por isso
precisamos encontrar formas de superar algumas dessas raízes que privilegia
alguns e marginaliza outros..
O discurso de posse de Maria Célia foi marcado por expressões de gratidão à família, aos amigos, aos lugares de sua caminhada profissional, às instituições onde estudou ou trabalhou, aos novos amigos na ALNM e várias outras pessoas que marcaram sua existência.
Para ler o discurso de posse de Maria Célia, clique AQUI.
Cumprindo o ritual de posse, Maria Célia homenageou o Patrono da Cadeira 35, Bernardo Élis, e o seu ocupante anterior, Pauliran Resende.
Para ler a homenagem a Bernardo Élis, clique AQUI.
Para ler a homenagem a Pauliran Resende, clique AQUI.
Perante a Presidene da ALNM, Maria Célia assina o termo de posse da Cadeira 35. |
O acadêmico José Ivan Lopes, diretor FINOM, ao lado de Maria Célia. |
O acadêmico Dom Leonardo, ex-bispo de Paracatu, ao lado de Maria Célia. |
Maria Célia entre sua irmã Aparecida (esq.) e Maria Angela Cardoso, diretora da Faculdade Tecsoma (dir.) |
Ao lado de Maria Célia, seu filho Leonardo. |