A Academia de Letras do Noroeste de Minas
(ALNM), sediada em Paracatu, possui uma cadeira cujo patrono é Afonso Arinos de
Mello Franco. Para homenageá-lo, realizou em 01 de maio de 2018, ano do
sesquicentenário deste grande escritor, algumas homenagens. O dia amanheceu ao
som de dobrados que ecoaram pelas ruas da cidade em uma alvorada festiva,
seguida do toque dos sinos das igrejas Matriz de Santo Antônio e do Rosário. Foi
celebrada também uma missa na Matriz, marcada pela entrada solene dos membros
da ALNM e abrilhantada pela música do Coral Stella Maris de Paracatu. O
acadêmico Lavoisier Albernaz, que ocupa a cadeira de número 5, cujo patrono é
Afonso Arinos de Mello Franco, prestou-lhe tributo com entusiasmo e admiração.
Com a intenção de tornar sua vida e sua obra conhecidas
das novas gerações, em maio de 2019 a ALNM realizou um evento com atividades
voltadas para cada nível educacional. Assim algumas turmas de quinto ano foram
contempladas com uma adaptação do conto Assombramento; turmas do oitavo ano
estudaram o poema Buriti Perdido; turmas do Ensino Médio participaram a
dramatização e interpretação do conto Pedro Barqueiro; e para o Ensino superior
foi oferecida uma palestra sobre a vida e a obra do nosso ilustre conterrâneo.
A ALNM
considera que é necessário difundir a obra do escritor que primeiro tematizou e
valorizou o homem e a paisagem de cerrado, esse bioma composto por vários
ambientes e que ocupa todo o Brasil central. Ele teve os olhos e ouvidos bem
abertos para captar a maneira como o sertanejo encarava a vida, o trabalho e a
natureza e para sentir a força que vinha dessa terra. Seus escritos refletem
esse olhar. Suas obras foram: Pelo
Sertão - contos (1898); Os jagunços -
romance (1898); Notas do dia (1900); O contratador de Diamantes -
drama (póstumo, 1917); A unidade da Pátria (póstumo, 1917); Lendas
e Tradições Brasileiras (póstumo, 1917); O mestre de campo -
drama (póstumo, 1918); Histórias e paisagens (póstumo, 1921); Ouro,
ouro (inacabado).
O sertão que Afonso Arinos tão ricamente
descreveu, cobre uma grande área do Estado de Minas Gerais e de Goiás, Estados onde
ele passou sua infância. No Noroeste de Minas Gerais, cidades o homenagearam em
seus nomes: Buritis e Arinos. O símbolo escolhido para representar Brasília foi
o buriti, em sua homenagem, por isso Brasília e o DF são governados a partir do
Palácio do Buriti que fica localizado em uma praça com o mesmo nome, onde foi
plantada essa palmeira, tendo aos pés um trecho do seu poema mais conhecido: Buriti
Perdido.
Em fevereiro de 1901 Afonso Arinos foi eleito
sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e em
seguida foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, onde ocupou a cadeira
de número 40, na vaga de Eduardo Prado. Foi recebido ali por Olavo Bilac,
o que dá noção da dimensão alcançada pelo seu nome e indica a necessidade de
cultivá-lo.
É curiosa e pouco conhecida a história do seu nome.
De acordo com seu sobrinho, o segundo do nome Afonso Arinos, ele foi batizado
como Afonso de Mello Franco e que, anos mais tarde, seu pai teria dado a todos
os filhos, informalmente, um nome indígena, dentro do espírito romântico
próprio do século XIX, que buscou valorizar o elemento indígena como nossa raiz
fundamental. O dele foi Arinos, nome de um rio no Mato Grosso, às margens do
qual vive um grupo indígena denominado Arinós. Nosso escritor maior adotou
oficialmente esse nome, e é apenas como Afonso Arinos que ele assina toda a sua
produção jornalística e literária. Foi assim que ficou conhecido pelo Brasil e
pelo mundo.
Vários outros aspectos devem ser ressaltados ao
fazer referência a esse homem. Um é a sua contagiante simpatia, que cativava a
todos que com ele conviviam e que exercia um poder de convencimento responsável
pela liderança que assumiu frente a grandes intelectuais e à alta sociedade
mineira, paulista e carioca da sua época. Outro é a firmeza com que defendeu
uma ideia de Brasil sem estrangeirismos, que valorizasse a cultura nacional e
popular. Seu nacionalismo lançou as sementes do movimento modernista e da Liga
de Defesa Nacional criada por Olavo Bilac. Outro aspecto é a sua convicção
política monarquista, que o levou a se colocar na oposição ao governo
republicano instalado no Brasil e a, coerentemente, não assumir nenhuma função
oficial. Foi advogado, professor, editor de jornal, escritor, palestrante, e
depois se mudou para a Europa onde negociava produtos brasileiros, o que permitia
a ele vir muitas vezes e permanecer bom tempo, a negócio, no Brasil.
Paracatu, sua cidade natal, marcou sua
memória afetiva e se fez presente em suas obras. Essa cidade conta ainda hoje com
um núcleo histórico preservado e protegido por lei,
que foi reconhecido como Patrimônio Nacional pelo Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em 2.010. A casa onde nasceu Afonso
Arinos, situada na Rua da Praça (Rua Temístocles Rocha), ainda existe e está
sinalizada para orientação dos turistas. Paracatu tem
uma vocação cultural que inclui interesse pela educação formal, que remonta aos
períodos colonial e imperial. Essa vocação foi herdada dos seus filhos
ilustres, dentre os quais se destacam alguns da família Mello Franco. Hoje, ao
desenvolver sua vocação turística, o vivo interesse pela cultura e pelas artes,
tornou-se o seu diferencial, distinguindo-a mais, nos cenários nacional e
regional, do que sua pujante, moderna e tecnificada economia agropecuária e
mineradora.
Helen Ulhôa Pimentel
Presidente da Academia de
Letras do Noroeste de Minas
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