segunda-feira, 1 de julho de 2019

TRIBUTO A AFONSO ARINOS

A Academia de Letras do Noroeste de Minas (ALNM), sediada em Paracatu, possui uma cadeira cujo patrono é Afonso Arinos de Mello Franco. Para homenageá-lo, realizou em 01 de maio de 2018, ano do sesquicentenário deste grande escritor, algumas homenagens. O dia amanheceu ao som de dobrados que ecoaram pelas ruas da cidade em uma alvorada festiva, seguida do toque dos sinos das igrejas Matriz de Santo Antônio e do Rosário. Foi celebrada também uma missa na Matriz, marcada pela entrada solene dos membros da ALNM e abrilhantada pela música do Coral Stella Maris de Paracatu. O acadêmico Lavoisier Albernaz, que ocupa a cadeira de número 5, cujo patrono é Afonso Arinos de Mello Franco, prestou-lhe tributo com entusiasmo e admiração.
Com a intenção de tornar sua vida e sua obra conhecidas das novas gerações, em maio de 2019 a ALNM realizou um evento com atividades voltadas para cada nível educacional. Assim algumas turmas de quinto ano foram contempladas com uma adaptação do conto Assombramento; turmas do oitavo ano estudaram o poema Buriti Perdido; turmas do Ensino Médio participaram a dramatização e interpretação do conto Pedro Barqueiro; e para o Ensino superior foi oferecida uma palestra sobre a vida e a obra do nosso ilustre conterrâneo.
A  ALNM considera que é necessário difundir a obra do escritor que primeiro tematizou e valorizou o homem e a paisagem de cerrado, esse bioma composto por vários ambientes e que ocupa todo o Brasil central. Ele teve os olhos e ouvidos bem abertos para captar a maneira como o sertanejo encarava a vida, o trabalho e a natureza e para sentir a força que vinha dessa terra. Seus escritos refletem esse olhar. Suas obras foram: Pelo Sertão - contos (1898); Os jagunços - romance (1898); Notas do dia (1900); O contratador de Diamantes - drama (póstumo, 1917); A unidade da Pátria (póstumo, 1917); Lendas e Tradições Brasileiras (póstumo, 1917); O mestre de campo - drama (póstumo, 1918); Histórias e paisagens (póstumo, 1921); Ouro, ouro (inacabado).
O sertão que Afonso Arinos tão ricamente descreveu, cobre uma grande área do Estado de Minas Gerais e de Goiás, Estados onde ele passou sua infância. No Noroeste de Minas Gerais, cidades o homenagearam em seus nomes: Buritis e Arinos. O símbolo escolhido para representar Brasília foi o buriti, em sua homenagem, por isso Brasília e o DF são governados a partir do Palácio do Buriti que fica localizado em uma praça com o mesmo nome, onde foi plantada essa palmeira, tendo aos pés um trecho do seu poema mais conhecido: Buriti Perdido.
Em fevereiro de 1901 Afonso Arinos foi eleito sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e em seguida foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, onde ocupou a cadeira de número 40, na vaga de Eduardo Prado. Foi recebido ali por Olavo Bilac, o que dá noção da dimensão alcançada pelo seu nome e indica a necessidade de cultivá-lo.
É curiosa e pouco conhecida a história do seu nome. De acordo com seu sobrinho, o segundo do nome Afonso Arinos, ele foi batizado como Afonso de Mello Franco e que, anos mais tarde, seu pai teria dado a todos os filhos, informalmente, um nome indígena, dentro do espírito romântico próprio do século XIX, que buscou valorizar o elemento indígena como nossa raiz fundamental. O dele foi Arinos, nome de um rio no Mato Grosso, às margens do qual vive um grupo indígena denominado Arinós. Nosso escritor maior adotou oficialmente esse nome, e é apenas como Afonso Arinos que ele assina toda a sua produção jornalística e literária. Foi assim que ficou conhecido pelo Brasil e pelo mundo.
Vários outros aspectos devem ser ressaltados ao fazer referência a esse homem. Um é a sua contagiante simpatia, que cativava a todos que com ele conviviam e que exercia um poder de convencimento responsável pela liderança que assumiu frente a grandes intelectuais e à alta sociedade mineira, paulista e carioca da sua época. Outro é a firmeza com que defendeu uma ideia de Brasil sem estrangeirismos, que valorizasse a cultura nacional e popular. Seu nacionalismo lançou as sementes do movimento modernista e da Liga de Defesa Nacional criada por Olavo Bilac. Outro aspecto é a sua convicção política monarquista, que o levou a se colocar na oposição ao governo republicano instalado no Brasil e a, coerentemente, não assumir nenhuma função oficial. Foi advogado, professor, editor de jornal, escritor, palestrante, e depois se mudou para a Europa onde negociava produtos brasileiros, o que permitia a ele vir muitas vezes e permanecer bom tempo, a negócio, no Brasil.
Paracatu, sua cidade natal, marcou sua memória afetiva e se fez presente em suas obras. Essa cidade conta ainda hoje com um núcleo histórico preservado e protegido por lei, que foi reconhecido como Patrimônio Nacional pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em 2.010. A casa onde nasceu Afonso Arinos, situada na Rua da Praça (Rua Temístocles Rocha), ainda existe e está sinalizada para orientação dos turistas. Paracatu tem uma vocação cultural que inclui interesse pela educação formal, que remonta aos períodos colonial e imperial. Essa vocação foi herdada dos seus filhos ilustres, dentre os quais se destacam alguns da família Mello Franco. Hoje, ao desenvolver sua vocação turística, o vivo interesse pela cultura e pelas artes, tornou-se o seu diferencial, distinguindo-a mais, nos cenários nacional e regional, do que sua pujante, moderna e tecnificada economia agropecuária e mineradora. 
Helen Ulhôa Pimentel
Presidente da Academia de Letras do Noroeste de Minas

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