quinta-feira, 22 de junho de 2017

MARIA JOSÉ GONÇALVES SANTOS - ZEQUINHA

Maria José Gonçalves Santos -- Zequinha, ocupa a Cadeira 25 da Academia de Letras do Noroeste de Minas, patroneada por Henriqueta Lisboa.

Clique na imagem abaixo para ver a cerimônia de lançamento do segundo livro de Zequinha.



B I O G R A F I A


Maria José Gonçalves Santos - Zequinha - Licenciada em Português e Literatura, pós-graduada em Psicanálise e Educação, é filha de Maria Torres Gonçalves e José de Souza Gonçalves. Unaiense de nascimento e paracatuense de coração, atua na área educacional. Professora com experiência desde a alfabetização até o Ensino Médio, foi Superintendente Regional de Ensino, tutora do Projeto Veredas pela UNIPAM - Patos de Minas e, durante oito anos, ocupou o cargo de Secretária Municipal de Educação de Paracatu. Vice-Presidente da Academia de Letras do Noroeste de Minas até o início de 2017, participou da consolidação do sodalício, desde 1996, na promoção de várias atividades literárias e culturais envolvendo instituições escolares e amigos da cultura. Colaborou com crônicas e poesias para o jornal "O Movimento" e revista "ln Foco". Publicou "Cantiga Bissexta" e "Caixa de Retalhos", possuindo também publicações de contos e poemas em antologias de autores de Paracatu e Unaí. Participou do projeto de reedição do livro "Simplicidade", da paracatuense Branca Botelho, e ajudou a organizar o ensaio fotográfico "Flagrantes" de autoria de Geraldo Evandro,o Geraldinho da Prefeitura.

Zequinha declara o seu amor a Paracatu em

Sinfonia do Tempo

Procuro a tua alma e te busco
nas ruas incertas, de pesados casarões
nas declinadas ladeiras
nos vales aconchegantes
da tua terna paisagem
que o ninho da noite agasalha.

Ouço e entendo a sua voz
no código de sons dos sinos
rasgando as claras manhãs,
embalando tardes d'ouro
cantando em sonoras crônicas
os fatos comuns do dia.

Eu te percorro, eu te descubro
nos velhos becos que sobraram...
em cada esquina...
nas praças... nas procissões...
na névoa de incenso que envolve
as igrejas centenárias...
nos pobres guetos que brotam
à margem das mortas praias.

Eu mergulho no teu encanto, na tua emoção,
na meiga e leve melodia
de um violino que se foi...

Eu vivo a tua magia
de renovados encantos:
os de ontem, os de hoje...
agora e sempre, Paracatu.


HENRIQUETA LISBOA

Com sua simplicidade pessoal e elegância natural, Henriqueta Lisboa dedicou-se à poesia, tradução, crítica literária e educação.  Patronesse da Cadeira 25 da ALNM, ocupada pela acadêmica Maria José Gonçalves - Zequinha.
Com estilo pessoal a autora escreveu poemas metafísicos e versos dedicados ao público jovem.

Nasceu em Lambari em 15-07-1 .901 .filha de Jogo Almeida Lisboa e Maria Rita Vilhena Lisboa. Irmã de José Carlos Lisboa, formado em Farmácia, em Direito, catedrático em Literatura Espanhola e ocupante da cadeira 16 da academia Mineira de Letras. Também irmã de Alaíde Lisboa, famosa autora de A Bonequinha Preta e O Bonequinha Doce.

Henriqueta dedicou-se à poesia, à arte literária e à ciência da educação do espírito. Aprofundou-se no estudo das letras nacionais e estrangeiras. Lia clássicos universais e esmerava-se no conhecimento de outros idiomas. Tradutora de poemas, sobre eles tecia críticas inteligentes e fazia resenhas de obras de alto mérito. Foi professora, tradutora, ensaísta.

Fez o curso secundário em Campanha, antes de mudar-se com a família para o Rio de Janeiro, onde cursou Literatura e Línguas. Já em Belo Horizonte, lecionou Literatura Hispano Americana e Literatura Universal. Foi nomeada inspetora federal de ensino secundário, mas não abandonou sua produção poética de grande tendência simbolista. Em 1936 inaugura com "Velário" sua mudança de posição tradicionalista para a moderna e assim se integra ao movimento da geração de 30. O poeta e amigo Mário de Andrade, admirador da desenvoltura dessa poeta mineira, declarou que sua contenção expressiva dava-lhe raridade no panorama da poesia vigente.

Sua obra foi traduzida para outros idiomas. Por acréscimo, dedicou-se ao difícil ofício da tradução. Os poetas estrangeiros tornaram-se leituras cotidianas para ela: autores franceses, italianos, israelenses e holandeses. Henriqueta desenvolveu trabalhos tais como o intitulado "A poesia de Grande Sertão Veredas" no qual analisa as atividades de Miguilim observando: "Há temas mais absorventes e assoberbantes nesta selva salvaggia: a essência metafísica, a mística repartida entre Deus e o demônio, a consciência do bem e do mal, a dicotomia medo-coragem, o amor em multiformes aspectos, o deslumbramento da natureza, a integração do regional no universo, isto sem falar nas inovações da linguagem no emprego das metáforas, no domínio estilístico."

Quando Ihe foi perguntado se o poeta já nascia feito, respondeu que "o poeta nasce com uma especial intuição. É uma faculdade de pressentir, prever e captar fatos além da realidade imediata" e acrescenta "acima de tudo coloca-se a sensibilidade - tal como um instrumento de cordas - onde deverá seguir o poeta o caminho da imaginação. quando a imagem externa objetiva se une à pura imagem espiritual, fluxo do amor metafísico."

São muitos os estudos sobre a riquíssima poesia de Henriqueta da lavra de críticos como Fábio Lucas, Mário de Andrade, Sérgio Milliet, Padre Rangel, Carlos Drummond de Andrade e outros mais. A consagrada escritora foi a primeira mulher admitida na Academia Mineira de Letras. Na Praça Savassi, próxima ao local em que morava, uma estátua em bronze homenageia a simplicidade pessoal e o talento de Henriqueta, a poeta, tradutora, crítica literária e educadora que faleceu em 09 de outubro de 1985. 

Algumas referências a sua obra
  • O Menino Poeta - para o público infantil
  • Antologia poética para a infância e a juventude
  • Madrinha Lua, cuja inspiração no folclore e nas personagens antigas é um atestado de mineiridade com poemas sobre Aleijadinho, Chico Rei, Bárbara Heliodora, lendas da busca das esmeraldas, sobre Tiradentes e Ouro Preto.

Outras publicações

  • A face lívida
  • Flor da morte
  • Convívio poético
  • Azul profundo
  • Lírica
  • Montanha viva
  • Nova lírica
  • Miradouro
  • Casa de pedra
  • Pousada do ser
Um pouco da sua Lírica

Em Azul Profundo a arte da autora se realiza plenamente, no poema Os Lírios

"Certa madrugada fria
irei de cabelos soltos
ver como crescem os lírios
Quero saber como crescem
Simples e belos - perfeitos
Ao abandono dos campos."

Manuel Bandeira observa a respeito de Henriqueta:

"já disseram da poesia de Henriqueta que ela se caracteriza por uma constante perfeição (como a de Cecília Meireles). Mas essa perfeição não é fruto fácil virtuosidade: é perfeição da natureza ascética, adquirida á força de difíceis exercícios espirituais, de rigorosa economia vocabular" como se expressa em versos do poema PALAVRAS.

(fragmento)

Ó cores nascidas
Ó sombras criadas
Ó fontes detidos
Ó águas roladas
Ó campos abertos
por simples palavras

Segredos expostos
tingem de rubor
a palavra rosa.

Com que em deslize
Tocam-se cristais
Na palavra brisa.

Algo se insinua
de abandono e flauta
na palavra azul.

Espinheiro agreste
rompe, raiva e ruge
na palavra guerra.

Não há luz que corte
o ermo corredor
da palavra morte.

Não se pretende neste momento esgotar a profícua atividade literária da poeta Henriqueta Lisboa mas este é um momento impar para a apreciação dos belíssimos trabalhos dessa imortal mineira. 

Encerramos a nossa participação fazendo observar o quanto é importante valorizar o supérfluo que neste mundo conturbado significa parar e ganhar alguns momentos para apreciar coisas belas sem olhos apressados.

Do Supérfluo

Também as coisas participam da nossa vida
Um livro. Uma rosa.
Um trecho musical que nos devolve
a horas inaugurais.
O crepúsculo
acaso visto num país
que não sendo da terra
evoca apenas a lembrança
de outra lembrança mais longínqua.
O esboço tão somente de um gesto
de ferina intenção. A graça
de um retalho de lua
a pervagar num reposteiro.

A mesa sobre a qual me debruço
cada dia mais temerosa
de meus próprios dizeres.
Tais cousas de intimo domínio
Talvez sejam supérfluas.

No entanto
que tenho a ver contigo
se não leste o livro que li
não viste a rosa que plantei
não contemplaste o pôr-do-sol
a hora em que o amor se foi?

Que tens a ver comigo
Se dentro de ti não prevalecem
As cousas - todavia supérfluas-

Do meu intransferível património/


Pousada do Ser - Vozes, 1982.

Reunião em 13-1 1-2008 - Academia de Letras do Noroeste Mineiro




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